21/05/2011

ambiguidades

A principal qualidade do futebol, em termos literários, é a sua riqueza de ambiguidades. Em qualquer aspecto futebolístico, do goleiro ao centroavante, do técnico ao presidente, da torcida às pichações; este esporte está repleto de paradoxos, que o fazem uma matéria muito interessante de ser estudada.
Anteriormente, mencionei algumas das ambiguidades da posição do goleiro. Por um lado, foi designado à posição e, como qualquer outro jogador, casualmente falha; por outro, guarda a região decisiva do duelo, sendo assim, uma falha necessariamente abre o caminho para uma eventual derrota. O que abre a questão: um goleiro pode falhar? E caso possa, por que a torcida o condena em qualquer falha, enquanto assiste passivamente a dezenas de gols e dividas perdidas no meio de campo?
Outros paradoxos se apresentam até mesmo fora de campo. Um deles segue o rumo tomado pelo futebol. Com o desenvolvimento capitalista, consumista, a tendência do futebol é a de acompanhar o sentido adotado por qualquer outra empresa, que é o da elitização em prol da lucratividade. Podemos enxergar este processo como natural e produtivo, em vista que, com mais capital inserido no esporte e em seus diversos meios (como estádios, museus, centros de treinamento, clubes, entre outros), o desenvolvimento destes setores cresce muito, o que traz um grande avanço do ponto de vista publicitário e de aprimoramento físico dos jogadores. Mas um maior investimento significa uma maior necessidade de retorno de dinheiro por parte dos consumidores deste produto (do futebol), os torcedores. Com estádios mais estruturados e tecnólogicos e com os altos valores que circulam dentro do meio futebolístico, o torcedor é obrigado a pagar mais caro pelo ingresso. E isso nos traz ao ponto em que a elitização (não só do futebol, mas de qualquer setor afetado por este processo) impõe uma barreira àqueles que não têm meios de pagar pelo serviço e, no caso do futebol, impede que uma grande massa de torcedores (que aliás, por diversas vezes, são mais devotos aos clubes do que os próprios freqüentadores dos estádios) compareça aos jogos, que muitas vezes não são transmitidos para a TV aberta. Ou seja, a elitização, embora traga um grande desenvolvimento para o futebol; faz com que milhares de pessoas sejam incapazes de assistir à uma partida do seu time de coração.     
Diversos outros pontos deste esporte tão brilhante em sua simplicidade, são riquíssimos em divergências como estas, e o que tentarei fazer, ao menos daqui em diante, é tratar destas questões para tentar, eventualmente, encontrar uma explicação, quando não somente explicitá-las com o intuito de deliciá-los com tão magnífica fonte literária.

Um comentário:

  1. Oi, tudo bem? Vim retribuir a visita ao Respirando Futebol. Obrigada e boa semana!

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