27/05/2011

gol do pet

"O árbitro contou a distância da falta, os 9,15 m da barreira, e ninguém tentou cortar um pouquinho o pensamento do jogador. Se um tenta agredir a bola, aí o árbitro vai mandar voltar. Depois um outro agride, ele vai dar cartão, mas que se dane! Se agride o time todo, ele não ia mandar repetir. Mas isso é futebol." (Joel Santana, técnico do Vasco na decisão).
É impressionante como o mundo contribui para que só um golaço de falta na gaveta aos 43 do segundo tempo, possa fazer com que o Flamengo seja campeão. O jogo poderia se desenrolar de muitas formas, o Vasco poderia confirmar seu favoritismo e sua vantagem aproveitando as chances perdidas; o Flamengo poderia ter se resguardado melhor para não levar um gol e não precisar do terceiro. Mas o futebol pede, clama, implora pelo terceiro gol. E vindo de um jogador que não tinha recebido o salário do mês, que tinha rusgas com diversos jogadores e com parte da torcida. 
O futebol é feito de detalhes inexplicáveis, que em qualquer ocasião que não a do jogo, ocorreriam de forma completamente diferente. O chorado gol de Basílio no título paulista do Corinthians, em 77; o frango de Rogério na final da Libertadores em 2006; a bola que triscou a trave mas não entrou, no drible da vaca mais fantástico da história (feito pelos pés do Rei). O fato de o detalhe ser um fator tão decisivo é um dos marcos do futebol. Em outros esportes, o detalhe também existe, mas só no futebol, talvez pela escassez de pontos, em relação aos outros esportes (como no basquete,  ou no vôlei, ou no handebol, nos quais centenas de pontos são marcados por jogo, enquanto que uma partida de futebol é muito celebrada quando três ou quatro gols são marcados), o detalhe é tão significativo e tão recorrente. 
Este gol, de Petkovic, nunca mais ocorrerá novamente. Nem mesmo se um jogador, tão habilidoso quanto o sérvio, cobrasse uma falta à mesma distância do gol, com a mesma força, na mesma direção e ela caísse no mesmo lugar. Não seria a mesma coisa. Este gol é uma pintura, uma obra de arte: não importa o número de cópias, o original sempre será único. E o mesmo ocorre com qualquer golaço, com qualquer título, com qualquer tragédia. São todos momentos antológicos e inesquecíveis, resultantes de peculiaridades ínfimas por si só, mas gigantescas pelo que representam.  
A bola viajou, em câmera lenta. Uma imagem fantástica, divina. Cinqüenta mil mãos estendidas no ar, controlando o seu curso. Uma mão a menos e aquele toque do goleiro mudaria o seu destino.

Nenhum comentário:

Postar um comentário