16/05/2011

derrota


Ao fim dos 49 minutos, eu chorei. Estava em casa, sentado, meu pai ao meu lado, minha avó na poltrona. Perdi completamente o controle sobre meus instintos e comecei a golpear, violentamente, o sofá, como uma criança, que desconta no brinquedo a dor de não ganhar um doce. Só lembro de minha avó, típica Idishe Mama, reclamando da minha infantilidade; e de meu pai, reclamando dela por seu ceticismo. Naquele momento, não havia nenhum pai, nenhuma avó, nenhuma reclamação, nenhum sofá. Havia a tristeza, como nunca tinha sentido. Era algo indescritível, uma dor interminável, alimentada pelo pensamento de que ela só aumentaria nos próximos dias, com o contato do mundo não corintiano. Na vida, assim como no futebol, a dor é recorrente. Mas apenas no futebol os amigos existem para agravar essa mágoa, já que muitos deles não torcem para o mesmo time.
A derrota no futebol é pontual e permanente. Por um lado, ela existe apenas no pós-jogo. O time perdeu. Ponto. Acabou. Mas qualquer torcedor sabe que o revés nunca será esquecido pelos rivais e a iminência dessa situação aumenta em muito a dor do resultado negativo. Aliás, em diversas oportunidades, senão na maioria delas, a aflição de imaginar o que esperar no dia seguinte é maior do que o sofrimento pela derrota em si. Sendo assim, a tristeza, nas palavras de Tom Jobim, "não tem fim", na medida em que qualquer torcedor adversário, na primeira oportunidade que tiver, irá relembrá-lo da derrota. No caso de uma dor tão intensa, como no caso de um rebaixamento, o amigo deixa seu posto de apaziguador, toma o papel de carrasco e o tortura, deixando evidente que a derrota aconteceu, foi real. Ao contrário de uma situação em que a dor é quase tão grande (como num terremoto que destrói sua casa ou numa queda que o deixa paralítico), na qual o amigo se esforça para que a ocorrência seja esquecida, como se nunca tivesse acontecido.

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