07/06/2011

o antropofágico futebol ronaldal

Muitos, incluindo este que aqui escreve, ficam extremamente incomodados com o codinome de Ronaldo: fenômeno. Para estes muitos, o apelido foi criado pela Globo e, portanto, foi criado basicamente por questões publicitárias. Se havia um novo Ronaldinho (o gaúcho), Ronaldo precisava de um nome para ser diferenciado. E este "fenômeno", que é mesmo um fenômeno, agora é um segundo nome, para um jogador que de tão fenomenal, deveria ter seu nome nos dicionários como um adjetivo refinadíssimo, usado em ocasiões extremamente especiais, como num voto de casamento, ou num comentário sobre o prato da avó, ronaldal. Imaginem que incrível seria ser elogiado com uma palavra que remete a um personagem tão ilustre. Ronaldo não deveria precisar de um adjetivo (até por que nenhum adjunto adnominal é suficiente para qualificar sua carreira), seu próprio nome já é adjetivo suficiente para descrevê-lo.
Um de meus primeiros textos sobre futebol foi baseado neste grande jogador. Meu pai, um de meus confidentes futebolísticos, comentou que via em Ronaldo o primeiro ou segundo depois de Pelé. Certamente, esse é o tipo de comentário que merece, ao menos, um chopp e uma fomentada discussão. O período de tempo entre as épocas de glória de Pelé e Ronaldo, é extenso o suficiente para que pelo menos vinte jogadores platonicamente excepcionais tenham mostrado sua grandeza, antes da aparição do "fenômeno". Zico, Ademir da Guia, Falcão, Rivelino, Sócrates, Careca, Raí, Romário, Túlio Maravilha, Roberto Dinamite, Kruyff, Beckenbauer, Zidane, Platini, Baggio e Figo são alguns exempos. Mas nem mesmo Maradona poderia destronar Ronaldo de seu posto confortável na mente de meu pai. A resposta: nenhum destes se compara ao que o artilheiro das copas fez em pouco mais de quinze anos de carreira. O porquê: por mais incrível que tenha sido o futebol jogado por estes craques, nenhum se iguala ao praticado pelo fenômeno; só o jogo de Ronaldo era ronaldal. Um jogo plástico, rápido, eficiente, envolvente, lento, feio, catimbeiro, oportunista, forte, corpal, leve, angustiante, imprevisível, previsível. Ronaldo colocou em prática o antigo moderno canibalismo brasileiro e criou um futebol antropófago. Um futebol com a elegante potência dos holandeses; com a dura beleza dos italianos; com a calorosa habilidade dos espanhóis; com o catimbado gingado brasileiro.
Não tenho certeza se Ronaldo é o segundo ou sequer o terceiro melhor da história, mas que o antropofágico futebol ronaldal merece cadeira cativa, na seleção de lugares reservados para aqueles que transformaram este esporte em obra de arte, merece.
De qualquer maneira, obrigado Ronaldo, por oferecer ao mundo este espetáculo que é o seu futebol, que já fez crianças como eu caírem de joelhos ao presenciar tanto brilhantismo pela primeira vez na vida. Obrigado por ressucitar um time com a sua própria ressureição e por encantar uma torcida com tanta simplicidade.

Um comentário:

  1. Legal o texto David. Também sou um grande fã do Ronaldo. Dá uma olhada no poema que escrevi sobre a sua despedida. Abraço
    http://avidaeumlanche.wordpress.com/2011/02/16/o-adeus-de-uma-estrela/

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