26/04/2011

que venham os desnecessários

O fato de que o futebol não é mais tão belo como o de antigamente é, certamente, um fato. Como já disse anteriormente, jogadores como Zico e Rivelino deixam claro que, há uns trinta ou quarenta anos, o futebol era muito diferente. Era mais bonito, com mais dribles, mais gols, mais timaços, menos zagueiros, mais atacantes e meios-de-campo. Certo, o fato está constatado. Analisando este fenômeno, chego a duas explicações, que surgiram muito além do meio futebolístico, mas que o afetam... como afetam tudo.
A primeira é a mudança de alvos do capitalismo selvagem para o meio esportivo. Há uns trinta, quarenta anos, o esporte, em especial, o futebol, era um meio infrutífero para grandes empresários. Com o crescimento desenfreado das indústrias automobilísticas, telefônicas, cinematográficas, bélicas, de televisores e de rádios; por que um investidor deveria colocar milhões de dólares num esporte que, sim, reunia milhares de fãs, mas que não tinha envolvimento algum no mundo empresarial e capitalista? Sendo assim, não havia desenvolvimento tecnológico voltado ao futebol, não havia centros futurísticos de treinamento ou centenas de equipamentos de "fitness". Havia somente o talento dos grandes jogadores, intacto, inabalável, que se mostrava em campo. Estes craques não tinham vergonha de manchar o nome de uma marca e não se preocupavam com contratos milionários, já que não existiam. Só o que importava era o drible e o gol.  
A segunda é a obsessão do mundo moderno em encaixar tudo e todos no molde do "politicamente correto". Como um drible do Garrincha poderia existir no mundo dos "verticalmente prejudicados" (pronúncia politicamente correta para "anões") e dos afro-descendentes? Especialmente no Brasil, essa preocupação em derrubar o linguajar ofensivo e as obscenidades derruba também as inovações artísticas, como os dribles, que, quando são executados de forma espalhafatosa, são encarados como um desrespeito e são imediatamente julgados como "desnecessários". 
Que então venham os desnecessários, já que neste momento, são mais do que necessários.  

Um comentário: