09/07/2014

E agora?

A cena choca. Sete. Sete foi difícil de aguentar. Os alemães trouxeram um enorme balde d'água, diretamente do Reno, e despejaram de uma vez. Mas depois do banho gelado, tem sempre aquela chacoalhada no corpo para espantar o frio. E isso é exatamente o que deve ser feito. A ducha já foi ligada, cortesia da famosa delicadeza alemã, precisamos agora é saber nos secar. Mas se a atitude for semelhante à tomada pela plateia no Mineirão, que dirigia sua frustração à nossa cara presidente, ficaremos ensopados por um bom tempo.

Às vésperas da copa, fui convencido - por mim também - a acreditar que valia a pena torcer pelo Brasil, que não seria hipocrisia apoiar, ao mesmo tempo, a seleção e os movimentos sociais. O principal argumento usado - por mim, para mim - baseava-se no "fato" de que futebol e política não se misturam. Pois não deveriam se misturar; mas de nada adianta ficar se iludindo, principalmente depois desses sete tapas na cara: toda a politicagem que envolve esse esporte levou a canarinho ao maior vexame de sua história. Assim como a sociedade de forma geral, o futebol é regido por corruptos, por gente cuja menor preocupação é resgatar o brilhantismo de outrora. O jogo de cifras absurdamente altas, inconcebíveis para 99% do mundo, tomou os campos e não há como seguir fazendo vista grossa para o que está bem diante de nós. O povo, que faz do futebol um fenômeno artístico, torna-se mero espectador deste processo de empobrecimento da criatividade no gramado, e enriquecimento de bolsos fora dele. E não só assiste, como crê que o melhor está sendo feito, porque a imagem é muito bem explorada.

Esse conceito de "família CBF" encheu os olhos de milhões depois da Copa das Confederações no ano passado, quando a seleção deitou e rolou pra cima da Espanha - mas ora vejam, como foi mesmo o desempenho da Fúria nessa Copa do Mundo? 3 x 0 nos então campeões mundiais, e que venha 2014! O povo comprou a ideia, a CBF ganhava carta branca para fazer o que bem entendesse em função do sonhado hexa. Pois bem, bilhões superfaturados, obras inacabadas, viadutos desabando e a lendária camisa amarela em frangalhos. Esse é o legado da Copa até aqui. Essa historinha pra boi dormir já cansou, chegou a hora de mudar, de levantar a bola e pegar na veia. Bicar Marin, Del Nero, Rebelo e companhia para fora da cancha e formar uma congregação que, no mínimo, entenda mais de futebol que de dinheiro.

No entanto, no que parecia ser o auge da humilhação - mas não era, mais dois gols ainda estavam por vir -, a "torcida" resolve lançar o coro: "ei, Dilma, vai tomar no cú". Se a Dilma fosse mesmo a grande responsável pelos problemas do futebol no país, a situação seria muito mais preocupante. Com milhões sem casa, comida, emprego, educação, transporte, saneamento básico, saúde e acesso à cultura, seria um absurdo esperar da presidente uma atitude drástica em relação ao futebol. É para isso que serve, ou deveria servir a CBF; para ser o braço do governo responsável por cuidar de um dos maiores patrimônios do Brasil.

O futebol brasileiro é grande demais para ser deixado às traças como foi feito nas últimas décadas. O tratamento que lhe é dado é absolutamente desrespeitoso. Eu sou jovem, nunca vi os maiores ao vivo, mas me sinto humilhado por aqueles que os viram. O preço de toda essa sujeira já foi alto demais, que pelo menos agora, quando estamos falidos, o planejamento seja repensado.

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