04/07/2011

Abaixo a Seleção!

Hoje, durante o sonolento jogo da seleção, contra a Venezuela, me deparei com uma situação muito recorrente, mas que nunca tinha me feito pensar como hoje. Estava eu na sala e ao meu lado se encontrava a mais fervorosa das torcedoras que conheço, Ivone, mulher de meu pai. Já acompanhei inúmeros jogos ao seu lado, mas nunca a vi gritar tão alto e com tanta força quanto hoje. A cada passe errado, a cada oportunidade desperdiçada ouvia-se uma cachoeira de xingamentos e reclamações. Parecia que ela estava no estádio, oferecendo a alma pelo brilhantismo dos jogadores. A cena em si não configura nada muito surpreendente (aliás, o mais surpreendente era o fato de que a maioria das suas reclamações batiam com as dos comentaristas), mas para mim era algo impressionante. Nunca a vi gritar dessa maneira num jogo do São Paulo, seu "time do coração". Talvez o planeta corintiano, meu e de meu pai, tenha sugado o fraco satélite tricolor para sua órbita, eliminando a possibilidade da existência de um torcedor são paulino na galáxia do apartamento 42. Assim, sem a possibilidade de cantar pela equipe pela qual sempre torceu, a seleção apareceu como um grande porto seguro, ao qual poderia torcer a vontade, sem transtornar os homens da casa e sem negar suas origens são paulinas. Todos gostam da seleção.
Já na minha realidade, alguém que coloca a seleção à frente de um clube é tachado de infiel, torcedor fajuto e até vira-casaca. Depois de tantos anos observando um futebol pífio, o amor pelo esquadrão brasileiro murchou e agora, torcer para o Brasil tem tanto valor quanto torcer para um time europeu, ou seja, não há paixão real, há apenas um desejo de que o time ganhe, mas se não vencer, não há motivos para tristeza, não é o meu time que está jogando. Os jovens torcedores, aliás, não gostam da seleção, ela rouba jogadores. Afinal, o São Paulo ainda poderia ser líder com Lucas em campo; talvez o Santos não precisasse de tanto esforço para bater o América-MG com suas estrelas jogando. Por que tenho que ceder meus melhores jogadores a uma outra equipe? E que vantagem essa competição trará? Se Neymar brihar, não ficará ainda mais perto da Europa?
Sendo assim, presenciar a imagem de alguém dando mais de si pela seleção do que por um clube foi algo realmente chocante. Ver Ivone gritando a plenos pulmões: "CHUTA SEU BURRO!", "PASSA A BOLA DIREITO!" me trouxe um pouco da paixão que tenho pelo time brasileiro e pouco depois me vi gritando ao lado dela.

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