29/04/2011

torcida

Fora do mundo futebolístico, torcer significa enroscar, enrodilhar, com o objetivo de extrair todo o conteúdo de um objeto. Ao ser contorcido, um pano molhado é destituído de todas as suas gotas e se torna úmido, cansado, fatigado ao final do processo. Cantando, gritando, xingando, explodindo, suando, amando, odiando, sujando; a torcida torce a equipe em campo, extirpando a habilidade e o empenho dos jogadores. Quando o time da casa marca um gol, a torcida deixa clara a sua exaltação e aumenta a sua motivação, tentando mostrar para a equipe que existe um décimo segundo jogador na arquibancada, que é tão importante quanto o camisa dez, que empurra os jogadores em direção ao gol adversário com demonstrações impressionantes, desde avalanches a invasões em massa. Quando o adversário marca um gol, os torcedores exercem o seu papel e arrancam até a última gota de suor destes jogadores, panos molhados em campo, que se sentem amedrontados pelo poder dessa massa sólida. Ver um jogo ao vivo, significa estar ao lado de pessoas simples e não simples, que se misturam e formam um vulto monocromático, que repete uma série de cantos e danças, perfeitamente sincronizados e simétricos, que nunca foram ensaiados, mas que se harmonizam no amor comum entre todos os torcedores pelo time.

27/04/2011

Fuerza Messi!

Muita coisa aconteceu no jogo de hoje, entre Real Madrid e Barcelona. E pelo menos 99% por cento delas merece destaque num blog sobre futebol. O golaço de Messi, a retranca do Real em Madrid, as expulsões, as brigas. Mas numa ação de marketing desesperada, falarei exatamente sobre o 1% que certamente não irá figurar em nada relacionado com futebol, nem blogs, jornais ou rodas de conversa. Sobre algumas estatística do jogo.
Messi marcou um golaço. Mas, dentro do grande universo das estatísticas, não há motivos para analisar este gol. Agora, o outro, muito mais simples aos olhos dos ignorantes, foi certamente muito mais importante. Este gol foi, nada mais nada menos, o primeiro gol de Messi em semi-finais de Champions League! Um dado incrível, sem dúvida. Mas o locutor deve ter se equivocado ao não mencionar que este gol, além de ser o primeiro em semi-finais de Champions League, foi o septuagésimo terceiro gol marcado no ar e o trigésimo sétimo realizado após uma cusparada na meia lua, disparada à uma velocidade de 132 m/s, finalmente ultrapassando a marca de Romário, que conseguiu apenas trinta e seis gols nessas condições. Messi agora luta para, até o final da temporada, marcar mais doze gols e ultrapassar seu técnico, Josep Guardiola, que detém a incrível marca de quarenta e nove gols marcados após uma cusparada na meia lua, disparada à uma velocidade de 132 m/s.
Fuerza Messi!  

26/04/2011

que venham os desnecessários

O fato de que o futebol não é mais tão belo como o de antigamente é, certamente, um fato. Como já disse anteriormente, jogadores como Zico e Rivelino deixam claro que, há uns trinta ou quarenta anos, o futebol era muito diferente. Era mais bonito, com mais dribles, mais gols, mais timaços, menos zagueiros, mais atacantes e meios-de-campo. Certo, o fato está constatado. Analisando este fenômeno, chego a duas explicações, que surgiram muito além do meio futebolístico, mas que o afetam... como afetam tudo.
A primeira é a mudança de alvos do capitalismo selvagem para o meio esportivo. Há uns trinta, quarenta anos, o esporte, em especial, o futebol, era um meio infrutífero para grandes empresários. Com o crescimento desenfreado das indústrias automobilísticas, telefônicas, cinematográficas, bélicas, de televisores e de rádios; por que um investidor deveria colocar milhões de dólares num esporte que, sim, reunia milhares de fãs, mas que não tinha envolvimento algum no mundo empresarial e capitalista? Sendo assim, não havia desenvolvimento tecnológico voltado ao futebol, não havia centros futurísticos de treinamento ou centenas de equipamentos de "fitness". Havia somente o talento dos grandes jogadores, intacto, inabalável, que se mostrava em campo. Estes craques não tinham vergonha de manchar o nome de uma marca e não se preocupavam com contratos milionários, já que não existiam. Só o que importava era o drible e o gol.  
A segunda é a obsessão do mundo moderno em encaixar tudo e todos no molde do "politicamente correto". Como um drible do Garrincha poderia existir no mundo dos "verticalmente prejudicados" (pronúncia politicamente correta para "anões") e dos afro-descendentes? Especialmente no Brasil, essa preocupação em derrubar o linguajar ofensivo e as obscenidades derruba também as inovações artísticas, como os dribles, que, quando são executados de forma espalhafatosa, são encarados como um desrespeito e são imediatamente julgados como "desnecessários". 
Que então venham os desnecessários, já que neste momento, são mais do que necessários.  

24/04/2011

às antigas

O futebol atual é sempre criticado pelos grandes jogadores do passado. É muito comum ouvir da boca de Casagrande, Rivelino, Falcão e Tostão, que o futebol moderno é feio, sem dribles incríveis, escalações fantásicas ou chutes no ângulo; e ao mesmo tempo, muito focado no aprimoramento físico dos jogadores, na parte defensiva, na tática. Realmente, falta brilho. Gostaria muito de ver, nos dias de hoje, um rolo compressor como foi o santos nos anos 60, o Inter nos 70, o Flamengo nos 80 e o Corinthians nos 90. 
Mas algumas imagens do fim de semana me deixaram muito contente com o futebol do ano de 2011, e me fariam lembrar dos lances incríveis do passado se eu não tivesse nascido há 19 anos. Mas certamente me remeteram aos tantos vídeos que já vi.
O gol de Willian, do Corinthians, um drible da vaca num espaço curtíssimo seguido por um petardo no ninho da coruja. A lambreta, ou carretilha, de Damião, do Inter. A consagração do melhor jogador do mundo, Messi, como maior goleador em uma temporada no futebol espanhol. A sequencia de vinte e uma vitórias consecutivas alcançadas pelo Coritiba, igualando o recorde Palmeirense de 1996. A confirmação do embate entre os grandes de São Paulo, nas semifinais do paulista (em formato de mata-mata, teremos dois grandes jogos). Lances que mostram que ainda há grandes jogadores e grandes times no cenário futebolístico brasileiro e mundial.


22/04/2011

do ninho da coruja ao anel superior

Para aqueles que não entenderam o nome do blog (e para aqueles que entenderam também), aí vai uma explicaçãozinha rápida.
O ninho da coruja é mais conhecido como "gaveta" ou, simplesmente "ângulo". É o ponto extremo que um chute pode alcançar, o mais cobiçado pelos artilheiros, logo abaixo da "furquilha", união da trave com o travessão. É o ponto alto do jogo, que caracteriza um gol especial. O nome "ninho da coruja" surgiu com o curioso fato de que algumas corujas se alojam exatamente neste ponto da baliza, inclusive durante os jogos. Para mim, soa como algo poético, metafórico, já que, na natureza, uma coruja é um animal de extrema destreza e inteligência, sendo assim, invadir seu ninho demandaria uma enorme carga de esforço.
Já o anel superior é o extremo contrário, é a arquibancada mais distante do gramado, 10 ou 15 metros acima do travessão. Mandar a bola no anel superior significa um ataque arruinado, uma bola isolada, um momento de humilhação, uma brecha para o anúncio de cerveja. Geralmente não chega nem a ser levado em consideração pelo locutor que no máximo lança um jargão ao melhor estilo "que beleza" de Milton Leite.
 Estes dois extremos, e o que há entre eles, simbolizam o futebol como um todo, que possui momentos de rara beleza e de tristes amarguras. A bola percorre o campo todo, mas no segundo em que entra no ângulo, ou que é isolada, a torcida se exalta, vibrando ou chorando com o golaço do título ou com a angústia do rebaixamento.
E o futebol se mostra apaixonante no momento em que se pode vibrar por uma bola no anel superior ou se lamentar por um tiro no ninho da coruja.  

20/04/2011

a paixão pelo futebol

Antes que os "fanáticos" possam me julgar, reforço e reitero meu "corintianismo", sou completamente devoto ao Timão e sempre serei. Mas as atuações de Santos e Fluminense, hoje, na libertadores, foram realmente apaixonantes. A paixão pelo futebol, em situações de superação (como foram as de Santos e Fluminense) se iguala à paixão pelo clube e um inocente corintiano, às vezes, pode vibrar com um gol do Santos. 
No jogo contra o Deportivo Táchira, o Santos mostrou um grande futebol, certamente, mas somente uma bela apresentação não é suficiente para, momentaneamente, virar a casaca de um torcedor. O que aconteceu no Pacaembu foi uma demonstração de entrega, brilhantismo e comprometimento com seus torcedores. Nessas situações, o telespectador se esquece do entorno que o entorna e se lamenta quando Zé Eduardo "quase" perde o gol, após uma jogada fantástica de Neymar (talvez, se o lance envolvesse Lucas e Dagoberto, o telespectador não se esquecesse do entorno e ficasse nervoso com um gol tricolor). O futebol se sobrepôs.
No jogo contra o Argentinos Jrs., o Fluminense espantou até mesmo seus torcedores ao consumar a vaga nas oitavas da libertadores, contagiando um corintiano que, normalmente, ficaria triste com o sucesso do clube que impediu a conquista do campeonato brasileiro na temporada passada. Um jogo emocionante, que revelou o poder que este clube carioca tem de contrariar expectativas. Um jogo de seis gols, superações, abalos, chutes no gol, na arquibancada, na canela, que resultou numa conclusão milagrosa. O futebol, novamente, se sobrepôs.
Ora, por que este corintiano deveria se ater, com chaves e cadeados, a torcer somente para uma equipe que foi eliminada para um time que foi derrotado por 6 x 0 pelo Cruzeiro; que joga um futebol seco e sem paixão; cuja maior contratação só entrará em campo em cinco meses?
Não estou tentando dizer que "virar a casaca" é uma atitude a ser incentivada, ou até mesmo elogiada (pelo contrário, sinto asco àqueles que deixam de torcer para um time num momento de dificuldade). Mas sim, que se entregar à paixão pelo futebol e se esquecer, por alguns minutos, da paixão pelo time de coração, é uma atitude natural e louvável.
Afinal, o futebol é o motivo primordial de sermos apaixonados pelos clubes.

protegendo o povo

Até agora me sinto aliviado pela expulsão de Neymar, no jogo contra o Colo-Colo. No momento em que colocou a máscara, quem sabe o que poderia acontecer! Com um disfarce tão elaborado, algo certamente ia dar errado. Aliás, estranhei o fato de a polícia da Vila Belmiro não ter perseguido o jogador como fariam com qualquer torcedor ao invadir o estádio, afinal, mascarado, ele poderia ser qualquer um! Eu, se fosse o diretor de segurança da Vila Belmiro, teria imediatamente chamado o capitão Nascimento em pessoa para acabar com uma ameaça terrorista tão evidente. Felizmente, o juíz o expulsou evitando o que poderia ser uma tragédia, para o alívio de tantas mães, que viram, pela TV, seus filhos serem salvos das mãos de tão perigosa ameaça.
Não nos esqueçamos dos que são advertidos ao retirar a camisa depois de um gol fantástico ou histórico. Jogadores como Rogério Ceni são advertidos em prol da justiça e da seguridade pública, afinal, alguém que não consegue conter a emoção depois do centésimo gol da carreira e tira a camisa, certamente é capaz de qualquer coisa!
Salvo o sarcasmo, já é tempo de algo ser feito contra cartões amarelos tão injustamente mostrados. Se um cartão amarelo deve ser usado no caso de um excesso de violência, o que justifica a advertência ser dada a jogadores que não puderam conter a exaltação depois de um golaço, como no caso do goleiro São Paulino? Por que uma comemoração deve ser passível de punição? Por que dar tanta importância à uma máscara ou à uma camisa?

04/04/2011

Sonhando alto (demais?)

Recentemente Andrés Sanchez agraciou a torcida corintiana anunciando a busca de reforços de altíssimo nível para a disputa do brasileiro, tais como Clarence Seedorf, o maior campeão da champions league das últimas décadas; Juan, zagueiro titular da seleção brasileira nas duas última copas do mundo e Samuel, zagueiro em nível de seleção argentina da Inter de Milão. Sempre em prol da enorme nação corintiana, Andrés nos presenteia com buscas assíduas por estrelas tão grandes quanto o clube, sem jamais esquecer as tentativas de contratação dos consagrados Guti, Trezeguet, Tévez e Kaká (entre outros).
Sr. presidente,
Ora, se vamos sonhar alto, por que não tentar Messi ou Cristiano Ronaldo? Afinal, há maneira melhor de utilizar o dinheiro adquirido pela venda de ídolos como Cristian, André Santos, Elias e Roberto Carlos e pelo maior contrato de patrocínio do Brasil, do que frustrar o torcedor ao esconder os problemas financeiros do clube com tentativas obviamente falhas de contratar medalhões do futebol mundial? 
 Seguramente o melhor a fazer no momento é deixar a torcida impaciente, tentando contar com jogadores impossíveis de serem contratados. Enquanto o meio de campo poderia ser formado por ótimos jogadores, contestados em seus clubes no Brasil e que, portanto, não demandariam um esforço tão inconcebível, como Carlos Alberto, Gilberto e Andrezinho, a fiel torcida é abençoada pelas notícias de que Weldinho  é o novo reforço (finalmente um terceiro jogador para a lateral direita, era o que o time precisava) e de que Seedorf está chegando (em Junho, mas quem tem Morais e Danilo não precisa de mais ninguém).
Ronaldo é um grande exemplo de que contratar jogadores veteranos, ao invés de focar nos jovens da base, é, sem sombra de dúvida, o melhor a ser feito. O fato de o ex-craque ter sido quase inexpressivo em suas duas últimas temporadas, de nenhum medalhão estar fazendo sucesso no Brasil e de que novos talentos como Neymar, Ganso, Lucas, Negueba, Caio, Casemiro e Henrique são os melhores jogadores em atividade no Brasil é, com certeza, mera coincidência.
Agradeço, assim, ao presidente corintiano, ao fazer escolhas tão sábias que tanto me fazem sonhar com a conquista do brasileiro deste ano.